segunda-feira, 29 de novembro de 2010

P, de Professor...

Há algum tempo penso em escrever sobre isso: ser professor. Talvez eu não seja um bom professor... E quem o é? Posso dizer, certamente, que é preciso outra porção de tempo e o bolo poderá, enfim, ser servido, porém não darei o livro de receitas, pois que também nunca me deram. 

Sem inspiração.





sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Alguém guardou meu guarda-chuva ontem?

O guarda-chuva é um objeto curioso, ele não é somente um conjunto de hastes ligadas num eixo, aliás, muito pelo contrário... Assim como os óculos me parecem ser olhos a mais, o guarda-chuva é quase um braço-plus, mas não chega a ser um (como também a lente não consegue ser um olho): ele precisa de um braço, da mão que bem aconchegue sua alça e, sobretudo, de uma cabeça para ser resguardada. 

O sábio manejo de um paraguas é essencial. Uma leve inclinação de seu condutor à direita poderá causar um excessivo ou irritante gotejamento no ombro esquerdo, por exemplo.  
 
Os guarda-chuvas pretos, a saber, são morcegos, principalmente quando estão pendurados num galho de árvore à noite. Ficam ali daquela maneira, quase sem se mexer, entreabertos e ensopados. Às vezes as costas ficam um pouco úmidas; as calças podem trazer um e outro respingos, mas o grande perigo, enfim, de se usar guarda-chuvas ingenuamente aparece nos pés: completamente encharcados! 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PASSARELAS




Por que me vigiavam as janelas abertas com quatro óculos de vidro?
Por que avista todos os dias seres e rotinas diferentes?
Será por causa das borboletas em meu vestido?
Ou por causa das impurezas que ainda há ao meu redor?

Segue a casa catando vento no telhado...
E se olharmos de outro ângulo, poderemos ver um belo ninho de pássaros
Quero olhar de canto e ouvir o canto, compasso por compasso
Que me fazem flutuar, espaço a espaço


Segue o pássaro cantando lento no assombreado quintal...


Lá no alto posso ver do estranho ao impossível
Porque cá embaixo já vi o impossível do estranho

Lá no alto posso ser imprevisível
Porque cá embaixo é natural ser invisível
ou sem tamanho...



Sei que era um vigiar indiferente
O olho alerta das sentinelas
E eu que me desequilibrava facilmente,
Voejava contente fitado pelas janelas




(Ana Borm e Sérgio L. Nastasi- Novembro 2010)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Quadrado dos Devires ( 6 )



         

        6. SOBRE A AMIZADE
Pensar o conceito de amigo nos parece algo descomplicado. Ele é simples, é de se tocar ou de se lamber; é um conceito que não nos esburaca ou nos desativa ao procurá-lo. E se a amizade começa com um estranhamento, talvez seja por ela se desdobrar sobre seus próprios eixos, queremos dizer: ela só se mantém de pé por si mesma, por quem a possibilita. Mas que "estranhamento" é este? Esta é toda a nossa percepção? Nada disso.
Como Foucault outro dia nos disse, o amigo abre "resistências criativas", isto é, a amizade como inauguração das proponências, do inventar, do desafiar, da reinação, enfim, da parceria.
Ao contornar o conceito de amigo, nos deparamos com o que quiçá tenha sido o nosso primeiro reconhecimento das multiplicidades: saber que alguém gosta de muitas das coisas que também gostamos. O estranhamento consiste nisso. "Esquisita tanta coincidência, não?" 

A partir daí começa uma espécie de jogo dialético, desta empatia nasce a concordância da atraente sedução, o bom papo regado a petiscos.  E também as aporias conflitantes. Assim se dá o reposicionar das ideias. A política, a estética, a embriaguez. O que vier na contra-mão do tédio cético será traçado.  Um pouco desta atividade nos fará bem. Acreditem!
O jogo, os jogos, a ideia, as ideias: são as proponências maiores, são as circunstâncias e ao mesmo tempo as consequências, ou melhor, o doce da amizade. Nesses espaços acontece a inversão da mesa alta (a mesa do papai...) para a grama gostosa, amistosa.  

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O Quadrado dos Devires ( 5 )



                5. SOBRE O DESPICHADOR 
        “Pau no cu do despichador” é uma frase que nos dá força... Impossível não se emocionar, sentir a abertura proponente (aquela que tanto falamos) dessa afirmação. Se fôssemos falar de ética — tema demasiadamente chato, e, diga-se de passagem, que encobre sujeiras enormes —, falaríamos dela em menos de cinco minutos, numa cambalhota. Aquilo que as velhotas repetem até hoje, esta nova geração assimila em terabytes. 
        O despichador seria aquele que quer apagar o rastro. O rastro é exatamente o duplo do homem, onde ele mesmo percebe suas medidas e reflete suas proporções, enfim, reflete. Apagar esse rastro é uma função objetiva, de interesses poderosos traçando trópicos e meridianos na história, elegendo o que fica e o que não. 



       Seria prudente nos perguntarem o que queremos fazer desta vida miserável antes da reza. Sobre este piso gelado nossos pés estão calçados. Todo discurso em busca dessa liberdade é uma grande borracha apagando rabiscos caóticos. Os ordinários precisam ser emocionados pelo falo erecto do Priapo sacana, seu urro da curra será animal. Não sobrará razão, nem a comida será racionada, todos poderão repetir três vezes, até enjoar, em retornos e ritornelos. Onde a família com sua bondade cristã não terá na cabeceira da mesa o lugar do papai salivante. 



       O rastro do pensar criativo e todos os outros agenciamentos do experimentar são deitados sobre uma mesa onde o prato principal desse jantar nos lembra uma sopa insossa. As funções programáticas das gentes engravatadas, de valor e juízos obscuros, forçam os processos de criação e lhes impõem medidas, parâmetros uni-formais, porque o Uni é tido como seguro. E sabemos dos problemas dos Universais...




quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma Festa



 Fui andando pela noite
pelos pés sentindo
jamais pela mente só
quando me vi, deus embusteiro
era em mim uma noite, uma festa,
embrenhada floresta, imensa,
na alma: a infinita fauna de correr sem pressa
no mundo: impossível coisa que m’ interessasse...




Fui correndo com os tamancos dela
Pelos pés sentindo
Jamais pela rua clara
Mas pelas brechas e frestas subindo
Quando me vi, diabo dos calos
Em mim uma manhã, uma libélula
Embrenhei você na floresta inteira
No corpo: minha festa de correr, desfiles
No fundo: a vontade de morrer sem filhos



 Sobraram duas tetas de nêga
No final da festa
Quem cantou seresta
Não franziu as sobrancelhas





No triângulo, a quadrilha
Era a quintessência
Seis dos doze dançarinos
Tinham sete anos de folia
Vinte anos de ciência
E outros tantos de demência...


(Leandro Acácio e Sérgio L. Nastasi - Maio 2010)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

VIGIAR E PUNIR


Vigiada a boca
Punida à brida
Vigiado o estômago
Punido a britas
Esfolado e esturro,
Acabado eu escorro,
Distraído e noturno,
Perambulo o morro
Sitiado pelos muros
Deste bairro morno,
Desta vida viva,
Mas cansada de torno.

A Terça parte da mente
Mente que reparte o cálculo
Para melhor fazê-lo






A Terça parte da mente
É a demente ou caduca
Batuca e estala
Tamborila com grande zelo
O Múltiplo e o Uno

Para melhor dizer-lhe:
Vigio-te,
Mas não te puno.

 

(Sérgio L. Nastasi-Agosto 2010)