sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

XII

Para quê? Para quais? Danou-se num grito só pelo quarto a procura do seu notebook.



Era sonho, disse. Era sonho de gente besta. Gente ruim nasce pronta, falou.

XI

Corre, então!


Viveiro,
Peçonha,


Cobra.
A cabeça virada e os olhos virados para o mesmo lado: o inferior. Ao final das contas ficaram ela e o poeta, este que xingou até a subida dela pela escada. Segurava sim um estilete, ou uma faca, foi o que ele viu. Matar-se-ia?

X

Quadro lastimável, debochado. Curva estava à porta, a velhinha, velhinha branca, branquela - melhor dizendo -, se fosse menos transcendental que isso, jurou Camila, poderia escrever no seu caderninho. poderia até escorrer a lágrima de sangue tão sonhada, ou leite, ou o pelo também.

IX

Nunca fizera assim. Sentava e vomitava. O ludo, a roça, o cata-vento... Nunca fizera assim. Sentava e vomitava. Bizolhou, bizolhou; fez arte, disse a avó. Nunca a nuca molhou tanto. Sentou e vomitou.

Correria,

Lenço,

Faca,

Estilete,
Corte!


Nunca vomitou assim.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

VIII

Segurou o riso, bem como outra noite amarrou o choro na garganta.

VII

Não é poema - pensou -, é antes uma besteira.

VI

Bem porque, de pouco em pouco, mesmo assim sem rimas, o estrago fora feito. Nada mais estava como na chuva: murcho, molhado e escorregadio; estava agora seco, pisado e vadio.

V

É um fluxo... Sentir o sentir, mas O sentir, que é diferente do só sentir. Camila não pode mais sentir a brisa do amanhecer, pois, tanta cafonice, pensava, não condizem com a sua formação, com seus cinemas. Pensava na folha.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

IV

Para quê? Para quais? Fontes e mais fontes, letras e mais letras e a secura na boca por não encontrar na tela do computador -na tela bruta do computador - uma nota que soasse bem, firme mas leve, que não se comportasse sob berros, pois estava incrédula que a discipllina beneficiasse alguém. Partiu sem horários.

III

Buscava um jeito. Revirava-se. Rebuliço. Soluços. Chorou ali no pilar a pobre menina da página branca, mal soube do resultado: a chuva caiu-lhe ferindo sua alvura. Antes saiu afoita para o quarto. Lá as cortinas eram de um verde maciço, lá a vida era dura. Inda não tinha o que escrever.

II

Vista mais de cima, ali de cima... próximo do pilar branco, foi aí que Camila notou que o que mais lhe agradava era a brancura das coisas, não só a palavra, nem só a tela brancos, brancos, brancos; o branco interessava-lhe. A vida não aflorou neste estado de candidez absoluta e absurda, dizia o poeta que passava ao lado, todavia tudo acaba em poesia e se o carnaval for em março eu me despedaço na fantasia.

I

Realmente ela estava parada, folheavam, folheavam, mas a página ficara no chão, presa como que um folheto agarrado a um chiclete. Mesmo com estes modos de pensar os contornos da vida, seguiu a página branca na brisa, poético demais Camila pensou, tudo menos trágico, tudo o mais não vira, só a alvura. Precisava mais, e, para parar de escrever bobagens, fechou o notebook, cerrou as pálpebras.