quarta-feira, 27 de junho de 2012

A nau do eterno



Leandro Acácio e Sérgio L. Nastasi 
 - Junho 2012
Os dedos enxergam tanto quanto os olhos:
 que primor
os dedos do primor
 cegos dos olhos

o cego toca viola
e os dedos violam às cegas

  escrevem Ilíadas
 Ulisseias

dizem às pressas
descontroladas línguas

não há luz intensa
melhor que as liras

tumultuados poemas
tensas linhas novamente
sangraram o muro um dia
sangnolentamente

e não era a criança o problema
nem a cegueira que não via

apenas queremos ler a brisa
que alisa o céu
somente o céu delicado
que se arma enfim
sobre o concreto armado
 duro das guias
das guisas perdidas

  trançar novo canto
descendo a ladeira
bêbedo
como o santo dos santos

ah,
o copo que nos abocanhe
e ganhe no corpo,
aos tantos,
a manha de descer torto

eis o álcool:
velho equilibrista dos loucos



quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ao poeta Leandro




Pela cabeça desse poeta
Ate, 

a deusa,
anda e desperta
manda,
feito Musa,
uma vivaz Fatalidade
felicidade pouco discreta


Que faz meu amigo?
Anda a olhar a lua embaçada,
Ronda um quarto úmido
até a sacada...
Saca uma ideia 
e dá à caneta...
Rasga papéis, pois é de veneta!

Que faz meu amigo me importa
mesmo se à porta se encosta
como quem nada quer,
nem mulher,
nem mulher...


Que faz esse poeta Ate sabe,
ela se insinua,
não nua, 
não nua...
mas afeta!