sábado, 24 de dezembro de 2011

Criar e Cair




Interrompi a escritura de meu segundo romance, pois uma angústia tem me tomado. É preciso esperar um pouco. Mas, esperar o quê? É esta a pergunta que me dá uma rasteira todos os dias. Uma angústia? Não sei bem qual é a melhor palavra... Sinto um desespero porque, talvez, eu tenha levado a situação das personagens a um extremo insustentável. Todavia, não jogarei nenhum papel na cesta de lixo. Ora, não é para tanto! Pode ser uma daquelas crises que, numa de suas pontas me faz criar e, em outra, me faz cair. Criar e cair: um bom anagrama, uma leve transposição, saca? 
Ah, como é divertido escrever. Uma necessidade. Criar uma queda, um cair criador dentre as mais difíceis liberações ou vapores de um texto: persigo tal perigo, saca?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Entranhas



Não domino entranhas
ou estranhas estradas: estrias.

Não ando a seguir estrelas
ou a guiar-me por onde
desfias.

Mal conheço teu começo
que dirá teus meios.

Mal caio em teus braços
e logo tropeço em teus seios.

Nem sou de vanguarda em teu corpo
como em tua suposta alma.

Nosso amor assim nati-morto,
nossas bocas chupando uma arma.



Sérgio Lima Nastasi (Dezembro 2011)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cruel com quem amo

Sendo eu cruel com quem amo
não posso mesmo ter o teu perdão.
 
Sendo eu frio e desalmado,
cinza como sábado nublado,
nem posso pegar tua mão.
 
Sendo eu um poeta menor 
de rimas fáceis,
de dores confusas,
de braços frágeis,
nem posso tremelicar olhando-te a sorrir.
 
Mas quero que sorrias,
dias e dias,
et cetera ou o todo porvir.
 
Sérgio Lima Nastasi (Dezembro/2011)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Palárvore: o pé da letra.

Leandro Acácio e Sérgio L. Nastasi (dezembro 2011)

A árvore não reclama um nome
o rubor na bochecha: o que é?
que apelido darei ao ar?

nem o próprio nome reclama um nome
nem precisa que alguém o chame
por que iria me desesperar?

e aqueles que arregaçam signos
querem, ao badalar de sinos,
chamar-se, chamar-se...

não sabe o que calaria
a voz não queria exaltada
a palavra: poesia

Palárvore: o pé da letra
a voz trêmula e acabada
de quem nunca chamar-se-ia


domingo, 4 de dezembro de 2011

A Solidão: nada a dizer.


Não tenho a quem dirigir-me para dizer que sofro. E creio que este seja o acmé da solidão: nada a dizer porque ninguém para dizer. É a diferença entre o silêncio como fundo da música-figura, e o silêncio que participa da música, como em John Cage. Meu nada a dizer só é assim porque não há aquele para ouvir o que tenho para dizer. Mas esta não é uma situação acidental: o meu nada a dizer só é assim porque não há quem possa ouvir. A essência do nada a dizer que mostro é a de não haver a quem dizer. Se houvesse a quem dizer, já não seria “meu nada a dizer”, que, este, é produto da ausência de interlocutor. Ou melhor – em uma gênese, a ausência do interlocutor é a condição para o nascimento do meu nada a dizer. A solidão contingente, não ter a quem dizer, funda a solidão necessária, nada a dizer. Mas este nada a dizer é nada a dizer porque é o dizer do sofrimento, que só pode ser dito para alguém, pouco importando como este alguém se forma. É um alguém, associado à minha vida pessoal – que se tornando ausente por morte, torna o meu nada a dizer do meu sofrimento uma parte essencial de mim”. 

Claudio Ulpiano



Este texto foi publicado em Pensar de outra maneira – a partir de Claudio Ulpiano, Editora Pazulin, Rio de Janeiro 2007.

Tatiana Roque
professora do Instituto de Matemática da UFRJ.