terça-feira, 29 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Estrangeiro (L´Étranger)

Não tinha lido nada de Albert Camus até que, nesta semana acinzentada, apareceu na minha mão O Estrangeiro (de 1957). Um livro rápido e seco. Insisto: seco, uma narrativa dura, personagens duros. 

Naquele pequeno volume nota-se logo que Camus traça pelo menos uma característica recorrente no comportamento de cada personagem (seja uma fala, um gesto, um tic, etc.) e coloca, na visão da figura principal, Sr. Meursault, um ponto no qual ele desenreda uma história "desinteressada", para não repetir o lugar-comum gratuita. 

O processo dessa narrativa muito sincera, diga-se já, grada ligeiramente, e poderia usar aqui todos os sinôminos da palavra velocidade. Nenhum  livro - que li - foi tão veloz. Dizem que não se consegue largar um bom livro, caso do romance Cem Anos De Solidão, de García Márquez. Porém, nem posso dizer isso de O Estrangeiro, não havia "no" que segurar nele, não havia em que ficar preso de tão rápido que se pode percorrer aquelas páginas. Dir-se-ia: ora, foi exatamente a narrativa seca que me prendeu. Talvez... Enfim, recomendo.
Quero destacar algumas passagens da obra:


"O que me impressionava nas suas fisionomias era que não lhes via os olhos, mas unicamente um brilho fosco no meio de um ninho de rugas".

"Hoje, o sol transbordante, que fazia estremecer a paisagem, tornava-a deprimente e desumana".

"Tanto fazia ser ou não amigo dele, e ele parecia realmente ter vontade disso".

"Tire o cigarro da boca quando falar comigo".

"Mesmo no banco dos réus, é sempre interessante ouvir falar de si mesmo".

"Para que tudo se consumasse, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que me recebessem com gritos de ódio".
   



sexta-feira, 11 de março de 2011

Findou-se


Findou-se,

e,

Para acinzentar nossos amores,


as cinzas do baseado do Rei Momo...



olha, fui muito mais Arlequim que Pierrot!




fui muito mais de mandinga que de tecné!








fui além do desperdício, além do monocromo
eu não fui só!
fomos todos nós.

É gostoso ser Nós...


Mas findou-se, e só.

terça-feira, 1 de março de 2011

estava sonhando um sonho sonhado





Sempre falo deste samba-enredo quando o assunto é Carnaval (e até quando não é...). A composição é da parceria Martinho da Vila, Aluísio Machado, Beto Sem Braço, Rodolfo e Graúna, para o desfile da Vila Isabel em 1980. Vice-campeã daquele ano, a "Vila não abafou ninguém", como dizem no bairro de Noel, "só mostrou que faz samba também".


O Enredo da Vila, por sugestão de uma professora de português, foi confeccionado a partir dos versos do belo poema de Carlos Drummond de Andrade, o Sonho de Um Sonho (que está nas páginas de Claro Enigma).



A batucada da Vila: uma maravilhosa consonância entre os tarois e as caixas, num tempo em que os repiques não aceleravam o samba, os tamborins não eram metralhadoras, e as cuícas estavam molhadinhas (ou calientes, como diria Ana Borm...).  




Outra coisa de que podemos falar com a boca cheia: a ousada estrutura do samba-enredo. Martinho sempre nos deu um baile neste quesito. Em 1987, com Raízes, fez um samba sem rimas, talvez "impraticável" hoje. Parte desse "estilo" se repetiu em Gbalá, 1993, com vácuos e apenas um refrão; naquela época mesmo já não se sonhava com isso (ano em que o Salgueiro venceu com o refrão-marcheado de Explode Coração).




Dá-me vontade de falar demais, mas a letra poderá completar este quadro, e, colocando nele uma pincelada final, repito que tenho saudades de um tempo que nem vivi.


Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava (bis)

Sonhei
Que eu era um rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços

Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava (bis)

Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma Lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência, a ternura
Por amor da clausura
A prisão sem tortura
Inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei...