Não tinha lido nada de Albert Camus até que, nesta semana acinzentada, apareceu na minha mão O Estrangeiro (de 1957). Um livro rápido e seco. Insisto: seco, uma narrativa dura, personagens duros.
Naquele pequeno volume nota-se logo que Camus traça pelo menos uma característica recorrente no comportamento de cada personagem (seja uma fala, um gesto, um tic, etc.) e coloca, na visão da figura principal, Sr. Meursault, um ponto no qual ele desenreda uma história "desinteressada", para não repetir o lugar-comum gratuita.
O processo dessa narrativa muito sincera, diga-se já, grada ligeiramente, e poderia usar aqui todos os sinôminos da palavra velocidade. Nenhum livro - que li - foi tão veloz. Dizem que não se consegue largar um bom livro, caso do romance Cem Anos De Solidão, de García Márquez. Porém, nem posso dizer isso de O Estrangeiro, não havia "no" que segurar nele, não havia em que ficar preso de tão rápido que se pode percorrer aquelas páginas. Dir-se-ia: ora, foi exatamente a narrativa seca que me prendeu. Talvez... Enfim, recomendo.
Quero destacar algumas passagens da obra:
"O que me impressionava nas suas fisionomias era que não lhes via os olhos, mas unicamente um brilho fosco no meio de um ninho de rugas".
"Hoje, o sol transbordante, que fazia estremecer a paisagem, tornava-a deprimente e desumana".
"Tanto fazia ser ou não amigo dele, e ele parecia realmente ter vontade disso".
"Tire o cigarro da boca quando falar comigo".
"Mesmo no banco dos réus, é sempre interessante ouvir falar de si mesmo".
"Para que tudo se consumasse, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muitos espectadores no dia da minha execução e que me recebessem com gritos de ódio".
Camus é "o cara". E "O Estrangeiro", "o livro". Marcou-me também, e muito. Para mim, é o melhor Camus. E, na briga Camus/Sartre, põe "A Náusea" debaixo dos tamancos facinho... E teu blog, sempre ótimo. Tu és um escrevinhador nato, Nastasi!
ResponderExcluirAbração!
CapituloII"Ha coisas de q prefiro nao falar ... Por causa da distancia entre os gradeamentos, os visitantes e os presos viam-se obrigados a falar quase aos gritos. Quando entrei, o barulho das vozes, fazendo eco nas grandes paredes nuas da sala, e a luz crua que corria do ceu para os vidros e se refletia na sala causaram-me uma especie de vertigem..."
ResponderExcluirAh gosto tanto de Camus!!!!!!!!!!
Que boas visitas! A Isa, uma surpresa, e complementando muito bem... Valeu, Marcos. Escrivinhador...
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