quarta-feira, 27 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O Quadrado dos Devires ( 4 )
É notável a rapidez da tecnologia em seu imbricamento com a comunicação. O tornar comum. Vemos na internet a apropriação de um novo jeito de se comunicar, onde a imagem e a escrita quase se nivelam. Estando a escrita em Delay[1] à imagem. A virtualização do sujeito e a falta do vis-à-vis, do contato físico, são vistos como um alarde problemático e histérico, onde o medo do desconhecido e a fobia pela metamorfose do ego imperam.
Os processos ‘estereotípicos’ usados como recurso por pessoas que mentem na internet possibilitam a criação de estereótipos, nicknames, logins, projeções... Tais delírios projetados em RGB[2] mixam a escrita e diluem o ego obtuso.
Estes múltiplos fazem o sujeito se apropriar de outro espaço levando-os para um longínquo espaço potencializado pela ficção. Esta mediação é a condição para o compreender/compreender-se, perdendo-se, deixando seus preconceitos para assim expor-se ao experimento. A aplicação desta dialética corrobora com o si mais amplo, Reflexionado, mais Flexível e agora Reposicionado.
Talvez a individualidade se perca no processo de interação quando passa a integrar uma comunidade, ou seja, começa a se confundir com ela a tal ponto de afirmar e reafirmar a multiplicidade tornando-a cada vez mais explícita e aberta, muito viva, portanto.
Enfim, a comunicação, nesse caso, necessita de uma fala enérgica, rasteira e sagital como a linguagem publicitária, por exemplo; é importante fabricar um ponto, instalá-lo numa interface e fazê-lo piscar ao máximo. Esta linguagem transforma o comunicar numa breve ‘manchete’ ou ‘anúncio’, isto é, em simples partículas textuais.
O problema do texto em Paul Ricouer se apresenta quando o arcabouço de vivências não é capaz de se apropriar do discurso escrito para se referenciar. Sem se referenciar se obstrui a condição de possibilidade de reflexão, compreensão. Uma vez que o texto não possui, por exemplo, o tom de voz do discursante, perde-se muito, pois este denota muitos aspectos para determinada compreensão, e para que esta seja mais afinada esses acentos devem ser agora elevados não pelos ouvintes, mas pelos leitores que estão aptos a entender o efeito do distanciamento causado pela escrita.
Para Ricouer a compreensão é como uma tensão que existe na medida em que a aproximação está indo ou indo de encontro ao distanciamento do leitor perante a obra a ser compreendida.
O distanciamento se dá quando o leitor está longe, fora da obra a ponto de não ser influenciado por ela e poder desenvolver suas críticas seja para derrubar, seja para vencer qualquer ideologia, como quem derruba um preconceito somente estando de fora para poder criar os seus conceitos já desenvolvidos. À parte deste preconceito, este movimento da conceitualização é onde se dará, enfim, a apropriação que será por sua vez, a outra partícula da compreensão.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
CLARISSA
Deito-me na palavra
Do teu nome claro
Urgentemente flutuo ali
Em meio ao sussurro
Do teu nome morno
Agarro-me nas letras
E procuro nele uma pedra
Alegremente morro de rir,
Pois somos vítimas da respiração
Falo Clarissa e respiro
Para morrer sufocado
Meu pulmão
Falo Clarissa e me atiro,
Arrisco o mais alto grito
Soluçando a única sílaba
Da palavra Não
(Maio 2010)
TUBERCIRROSE
Esta nossa vida bucólica
não cabe num vidro de bebida alcoólica.
E que me perdoe o Leandro,
mas de fato os velhos meandros
dos nossos poemas fáceis,
ao trato de versos malandros,
desandam em penas frágeis.
Da poemonia me descuidei,
É o que dá versar no sereno.
E não há, porém,
Vento mais frio no mundo
Que no inverno a rigor
Do nosso interior desnudo.
Que ardam os lenhos inigualáveis
O cerne dos pecados saudáveis
Que suba a chama intransponível
O alento da alma em desnível
Pois trago qual droga: empiria.
E se a aplico num deus invisível
Sou eu a cair não em vão: poesia.
O cerne dos pecados saudáveis
Que suba a chama intransponível
O alento da alma em desnível
Pois trago qual droga: empiria.
E se a aplico num deus invisível
Sou eu a cair não em vão: poesia.
Sérgio L. Nastasi e Leandro Acácio (Julho/Agosto de 2010)
Advérbio
Poeta não faz a cama
Poeta faz os sonhos
Ai de ti, morena,
Que já bebe
Do ciúme que tenho
De meus versos
Por que esse ar esquisito?
Para quê esse penetra-não-penetra?
O metrô, a linha mestra...
Abra o próprio abrir
Como quem é o Ato, o puro Verbo
E ainda nesse mesmo inserir
Insira-me nos teus maiores advérbios
(Março 2010)
A Rota do Universo
Poesia,
Musa intocada
Irremediável doença
Música e cevada
Irredutível descrença
E eterno Museu de Mágoas
Poesia,
Guarde nele minhas palavras
Segrede a ele meus encantos
Cante a ele verso a verso
Desembrulhando a fala
Como quem desempacota um doce
Como quem toca a nota um tanto
Como quem sabe a rota do Universo
Como quem diz e logo se cala:
A boa música silencia
A boa música nos para
(Junho 2010)
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