segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Quadrado dos Devires ( 4 )

4. SOBRE LINGUAGEM E COMPREENSÃO NA INTERNET


                É notável a rapidez da tecnologia em seu imbricamento com a comunicação. O tornar comum. Vemos na internet a apropriação de um novo jeito de se comunicar, onde a imagem e a escrita quase se nivelam. Estando a escrita em Delay[1] à imagem. A virtualização do sujeito e a falta do vis-à-vis, do contato físico, são vistos como um alarde problemático e histérico, onde o medo do desconhecido e a fobia pela metamorfose do ego imperam.
                Os processos ‘estereotípicos’ usados como recurso por pessoas que mentem na internet possibilitam a criação de estereótipos, nicknames, logins, projeções... Tais delírios projetados em RGB[2] mixam a escrita e diluem o ego obtuso.
                Estes múltiplos fazem o sujeito se apropriar de outro espaço levando-os para um longínquo espaço potencializado pela ficção. Esta mediação é a condição para o compreender/compreender-se, perdendo-se, deixando seus preconceitos para assim expor-se ao experimento. A aplicação desta dialética corrobora com o si mais amplo, Reflexionado, mais Flexível e agora Reposicionado.  
                Talvez a individualidade se perca no processo de interação quando passa a integrar uma comunidade, ou seja, começa a se confundir com ela a tal ponto de afirmar e reafirmar a multiplicidade tornando-a cada vez mais explícita e aberta, muito viva, portanto.
                Enfim, a comunicação, nesse caso, necessita de uma fala enérgica, rasteira e sagital como a linguagem publicitária, por exemplo; é importante fabricar um ponto, instalá-lo numa interface e fazê-lo piscar ao máximo. Esta linguagem transforma o comunicar numa breve ‘manchete’ ou ‘anúncio’, isto é, em simples partículas textuais.   
                O problema do texto em Paul Ricouer se apresenta quando o arcabouço de vivências não é capaz de se apropriar do discurso escrito para se referenciar. Sem se referenciar se obstrui a condição de possibilidade de reflexão, compreensão. Uma vez que o texto não possui, por exemplo, o tom de voz do discursante, perde-se muito, pois este denota muitos aspectos para determinada compreensão, e para que esta seja mais afinada esses acentos devem ser agora elevados não pelos ouvintes, mas pelos leitores que estão aptos a entender o efeito do distanciamento causado pela escrita.
               Para Ricouer a compreensão é como uma tensão que existe na medida em que a aproximação está indo ou indo de encontro ao distanciamento do leitor perante a obra a ser compreendida.
               O distanciamento se dá quando o leitor está longe, fora da obra a ponto de não ser influenciado por ela e poder desenvolver suas críticas seja para derrubar, seja para vencer qualquer ideologia, como quem derruba um preconceito somente estando de fora para poder criar os seus conceitos já desenvolvidos. À parte deste preconceito, este movimento da conceitualização é onde se dará, enfim, a apropriação que será por sua vez, a outra partícula da compreensão.   


[1] Atraso
[2] RED, GREEN, BLUE  (Cor Luz)
 

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