Paulo César Pinheiro
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
repetido sonho
repetem-se,
passam os dedos numa lembrança suja,
pueril, poeirenta,
esgotam o imaginário
que se deu de lambuja
e por fim nada inventam...
repetem-se, repetem-se,
insinuam amores, desenhos, amores, siluetas,
ventos dobrados, a dobra dobrada
e as respostas daquela borboleta, lembra-te disso, minha preta?
tudo vem no mesmo sonho seco,
e não quero,
nele vem um livro que leio...
e não quero,
nele o desespero da queda,
e não quero,
repetido sonho, repetido seio,
beijo, mão, a tua sobrancelha, outro seio teu,
lembra-te disso, minha preta?
repetido sonho, refrão deste desalmado,
acordo com o corpo morno, preta,
deixando teu travesseiro ensopado.
Janeiro 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
O Buraco
Não há poema que não sangre,
será que as ideias morreram?
Será que a tua boca é um buraco?
Ou apenas uma mentira para nos confundir?
Talvez eu não te zangue
Com um poema ruim
Vamos retomar o fôlego
Esquecendo o suor tenebroso
Por onde caminhamos sem fim
Vamos além da cratera
Dos nossos umbigos
Quem sabe uma esfera,
Um abrigo, outros perigos...
O olho que não enxerga
A cor azul,
O olho teu que nos vê
Assustados
O mesmo que se sente abusado
Por ver somente o que não convém
Vamos além dos braços suados
De novo e de novo
Estamos esgotados
Enquanto vamos pensando:
Para que nos torturar assim?
Outros que nos experimentem
O nosso rosto e a nossa mão,
Tudo o mais que surgiu
E que tudo se acabe com o perdão
De um pecado que jamais existiu
(ANA BORM e Sérgio L. Nastasi - Janeiro 2011)
domingo, 9 de janeiro de 2011
O Quadrado dos Devires ( 7 )
7. O GATILHO E O ALARME-FALSO
Os gatilhos também podem ser alarmes-falsos, mas eles têm a virtude, ou o compromisso, de dar à escrita um brilho singular. Assim como o espetáculo da poética abrolha pela sensação, o da escrita técnica acontece quando as partículas do texto se conectam ao composto da delicadeza do não-técnico, aquele que ainda se ocultava nas trevas de tantas palavras duras. Ora, isto quer dizer, com todas as letras, que talvez seja "sábio" abrir clarões em parágrafos truncados com períodos mais breves, com palavras leves e até mesmo irresponsáveis, mas que conseguem precisar com tanta vitalidade alguma ideia que seu "exato" conceito, de tão velho, jamais atingiu.
O Instantâneo talvez fuja de condicionamentos excessivos; não é necessário procurá-lo, porém é preciso construí-lo com diversas fórmulas. O emocionar consiste nisso. Essas fórmulas são livres e trazem universos possíveis. Por aqui cairemos novamente no campo das condições e possibilidades, o que será evitado pelo gatilho. O que é isso? O gatilho não é o assunto, é o que faz nascer o assunto, entretanto, podemos nos confundir nesse sentido da mesma maneira que uma mulher facilmente pode se enganar quando pensava estar grávida: alarme-falso... O gatilho é virtual.
É dele que saem o fio cintilante (aquele que "abrilhanta" o que se vai escrever) e alguma coisa misteriosa (aquela que nunca se sabe...). É por ele que escrevemos sem saber o que colocaremos nas próximas linhas, logo depois daquela vírgula e, principalmente, ou fatalmente, o que virá a seguir após desenharmos um ponto sobre outro ( : ).
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