A expressão "prazer inenarrável" é, no mínimo, provocante. Depois de algumas tardes a ler os poemas de NERUDA, podemos sentir sutis arrepios e uma "vontade louca" de narrá-los. Sim: começar pelas cores! Como são amarelos os versos de Neruda. São estações do ano, flores, pássaros, montanhas, ventos e águas amarelados, amarelescidos ou amarelescendo. AMARELO é palavra bonita, ela é assim inenarrável... E o que dizer, num sentido forte deste termo, dos ombros e do peito da moça sobre os ombros e o peito do moço? Além disso, percorremos profundidades cósmicas à beira do delirante a sentir um ácido ar que pelas narinas alcançam os pulmões. Pois é preciso ter pulmões para ler Neruda, não um amor. Ora, e por que um amor para ler poesia? Por que uma paixão para ouvir uma cancioneta? Podemos amar os pontos e apaixonarmos pelas letras. Podemos narrar júbilos confusos e escrever exorbitantes textos sobre prazeres. Quem ou o que impede? É isso, sobretudo, o que perguntamos. E não fiquemos mal ao narrar se esquecermos de algum abraço ou beijo no queixo antes de dedos alegres visitarem as rendas do vestido.
"Amor, de grano a grano, de planeta a planeta,
la red del viento con sus países sombrios,
la guerra con sus zapatos de sangre
o bien el día y la noche de la espiga.
Por donde fuimos, islas o puentes o banderas,
violines del fugaz otoño acribillado,
repitió la alegría los labios de la copa,
el dolor nos detuvo con su lección de llanto.
En todas las repúblicas desarrollaba el viento
su pabellón impune, su glacial cabellera
y luego regresaba la flor a sus trabajos.
Pero en nosotros nunca se calcinó el otoño.
Y en nuestra patria inmóvil germinaba y crecía
el amor con los derechos del rocío."
(Pablo NERUDA, poema XXVIII de Cien sonetos de amor.)
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