1. SOBRE O DESFAZER
Ocupar, não invadir, mas sim e sempre, invadir o ocupado e desdobrá-lo num terceiro ato, num quarto momento, num quadrado momento. Fazer, refazer, desfazer, redesfazer, desredesfazer. Ora, ora, ora... São ritornelos. Mas não são repetições, reproduções, porque se desfaz, porque se rasga também; rasga-se o barbante ou a fita de obras, coloca-se outro ou outra, em outro dia, em outro andamento, em outro devir. Põe-se o novo barbante ali e o nosso contorno nasce; uma fronteira cosmopolita, nunca limítrofe.
Ocupar, não invadir, mas sim e sempre, invadir o ocupado e desdobrá-lo num terceiro ato, num quarto momento, num quadrado momento. Fazer, refazer, desfazer, redesfazer, desredesfazer. Ora, ora, ora... São ritornelos. Mas não são repetições, reproduções, porque se desfaz, porque se rasga também; rasga-se o barbante ou a fita de obras, coloca-se outro ou outra, em outro dia, em outro andamento, em outro devir. Põe-se o novo barbante ali e o nosso contorno nasce; uma fronteira cosmopolita, nunca limítrofe.
O Quadrado é formado por linhas entre um poste e três troncos. O Quadrado é um monumento, às vezes imaginário como a linha do Equador: o maior monumento imaginário do mundo; às vezes aparece parcialmente, mas sempre aparece. Não é um dizer ou um significar pelas vias primeiras do que não-é, retirando todo o frescor e cristalizando a possibilidade de responder as questões, mas fazer das mais pertinentes e das melindrosas perguntas várias réplicas, de modo a jamais aplicá-las a compreensão última: o que importa-nos será dizê-las e só.
Então, dedilhar as folhinhas outonais, saber que é gostoso usar ponto-e-vírgula, deitar os platôs que admiramos e contemplar complementando a atmosfera filosófica com a nossa fala é um fazer já se refazendo, é a saúde da filosofia e seu deleite. Pois até mesmo os refrões são diferentes quando voltam, os pensamentos e as rabugices, as dinâmicas e as diacrônicas palavras, o chá proibido e as sincrônicas piadas, e, de contínuo, a Árvore que nos vê com duas lâmpadas-balões. Ali vivem as esperanças, os famas e os cronópios[1]. É muito bom transar o universo e gozar a via-láctea ou jogar a amarelinha ainda opaca das ideias improvisadas compostas para uma filarmônica dos devires: aquela que não busca um final, porque, aliás, para que servem os finais?
2. SOBRE O DESVIRAR
Hoje, relendo aquele texto (acima) que escrevi sobre o Quadrado, fiquei espantado com algumas letras, com o peso delas. A um só tempo pude senti-las pelas costas e também sobre a cabeça (onde já repousava uma antena branca), a leveza de penachos e a dureza de um saco de pedras. Simplesmente porque voeja assim a nossa peteca dos devires: sem a obrigação de manifestos e essas coisas de engravatados... Enfim, sem obrigações.
Hoje, relendo aquele texto (acima) que escrevi sobre o Quadrado, fiquei espantado com algumas letras, com o peso delas. A um só tempo pude senti-las pelas costas e também sobre a cabeça (onde já repousava uma antena branca), a leveza de penachos e a dureza de um saco de pedras. Simplesmente porque voeja assim a nossa peteca dos devires: sem a obrigação de manifestos e essas coisas de engravatados... Enfim, sem obrigações.
Ocupar foi uma palavra de difícil releitura. Por que a coloquei? Talvez porque procurasse a força que há por de trás dela. Mas esta intensidade poderia surgir de outras letras, sem, todavia, retirar a pedrinha do saco que lhe representa. Quiçá a palavra Ocupar fora enfiada ali somente porque não queria grafar Invadir. Porém, percorrendo ainda pela manhã o lado A do barbante, vejo que nem uma nem outra são boas, tudo por causa do redesfazer — você se lembra?— Nada no Quadrante se repete. “Ah, mas e as pessoas?”, o que é uma pessoa neste instante-já e o que ela será no próximo instante-já? Isso não é complicado.
Bem se vê que é outro agenciamento. Por outro lado (B), há sim um contínuo, ou ao menos a sensação de que ele existe, porque é preciso parar o devir para cutucar o ser; por aí se firma um paradoxo, e tão violento que faz nascer a noção da não existência de um Lado A ou B, C, e D... Mas o ‘daqui pra frente’, e há um motivo para que aquela sensação não seja ignorada: porque há um caminho, um rastro deixado pelo gato que esticou suas patas preguiçosas na grama a se virar, revirar, redesvirar...
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