sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alvoroço de moleca



Para Penélope Martins.


Será que Julinha vai se enredar num lençol molhado que a tia pôs na bacia? Não, não. Nada disso... Ela só vai passar a língua na beirada da bacia e sentir o gosto do alumínio.

"Menina!!!".

"Ué! Não pode, não?".

"Onde já se viu? Aí tem cloro e alvejante e amaciante e cândida e dínamo e detergente e tudo!".

Julinha não se conformou com isso, raptou a cesta de pregadores e saiu a colocá-los entre os vasos de samambaias que não vingavam.

"Para já de alvoroço, moleca!".

Com os pregadores verdes, Julinha fazia cri-cri e repetia os nomes com que tinha batizado uns grilos. Aos amarelos, as lagartixas. Aos azuis, as drosófilas. Será que não ficavam com ciúmes? Achava que não, ora: já tinha cinco primos com o mesmo nome! Quatro Carlos de sete anos e mais a prima Carla que, para Julinha, era um Carlos também.

"Mas, tia, o que é drosófila?".

"É aquela mosca que entrou na sua boca ontem e está a zunir desde a hora que você acordou!".



2 comentários:

  1. que delícia de texto, Sérgio. adorei ser parte da brincadeira. nunca tentei lamber a beira da bacia, mas é certo que várias drosófilas zunem na minha cachola desde os tempos de criancinha mínima... aos três disse para meu pai querendo fazer a coisa do meu jeito: - "oras, cada um cada um. mosquinhas, mosquinhas...

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  2. Ah, que gostoso também ter um texto no teu blogue, Penélope! E tudo surgiu daquele sonho com uma formiga (e ela nem apareceu no texto...). "Cada texto com as suas formiguinhas..."

    Beijo

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