“Não tenho a quem dirigir-me para dizer que sofro. E creio que
este seja o acmé da solidão: nada a dizer porque ninguém para dizer. É a
diferença entre o silêncio como fundo da música-figura, e o silêncio
que participa da música, como em John Cage. Meu nada a dizer só é assim
porque não há aquele para ouvir o que tenho para dizer. Mas esta não é
uma situação acidental: o meu nada a dizer só é assim porque não há quem
possa ouvir. A essência do nada a dizer que mostro é a de não haver a
quem dizer. Se houvesse a quem dizer, já não seria “meu nada a dizer”,
que, este, é produto da ausência de interlocutor. Ou melhor – em uma
gênese, a ausência do interlocutor é a condição para o nascimento do meu
nada a dizer. A solidão contingente, não ter a quem dizer, funda a
solidão necessária, nada a dizer. Mas este nada a dizer é nada a dizer
porque é o dizer do sofrimento, que só pode ser dito para alguém, pouco
importando como este alguém se forma. É um alguém, associado à minha
vida pessoal – que se tornando ausente por morte, torna o meu nada a
dizer do meu sofrimento uma parte essencial de mim”.
Claudio Ulpiano
Este texto foi publicado em Pensar de outra maneira – a partir de Claudio Ulpiano, Editora Pazulin, Rio de Janeiro 2007.
Tatiana Roque
professora do Instituto de Matemática da UFRJ.
professora do Instituto de Matemática da UFRJ.
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