domingo, 4 de dezembro de 2011

A Solidão: nada a dizer.


Não tenho a quem dirigir-me para dizer que sofro. E creio que este seja o acmé da solidão: nada a dizer porque ninguém para dizer. É a diferença entre o silêncio como fundo da música-figura, e o silêncio que participa da música, como em John Cage. Meu nada a dizer só é assim porque não há aquele para ouvir o que tenho para dizer. Mas esta não é uma situação acidental: o meu nada a dizer só é assim porque não há quem possa ouvir. A essência do nada a dizer que mostro é a de não haver a quem dizer. Se houvesse a quem dizer, já não seria “meu nada a dizer”, que, este, é produto da ausência de interlocutor. Ou melhor – em uma gênese, a ausência do interlocutor é a condição para o nascimento do meu nada a dizer. A solidão contingente, não ter a quem dizer, funda a solidão necessária, nada a dizer. Mas este nada a dizer é nada a dizer porque é o dizer do sofrimento, que só pode ser dito para alguém, pouco importando como este alguém se forma. É um alguém, associado à minha vida pessoal – que se tornando ausente por morte, torna o meu nada a dizer do meu sofrimento uma parte essencial de mim”. 

Claudio Ulpiano



Este texto foi publicado em Pensar de outra maneira – a partir de Claudio Ulpiano, Editora Pazulin, Rio de Janeiro 2007.

Tatiana Roque
professora do Instituto de Matemática da UFRJ.


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