terça-feira, 19 de julho de 2011

Mar Vertical



Mar Vertical
caia sobre os prédios
Marreal
transforma tudo em areia
areal
     caia sobre os tédios
foi um rio que passou
foi a vida que secou e rebrotou
que eu deixasse de ser parado
      me livrasse da inquietude
que eu deixasse de ser parnaso
a me lavar em outras altitudes
que eu fosse um ato forte
ou escapasse das similitudes
e do embaraço
lhe daria os olhos vivos
as águas vivas
parece encher de vida o seu regaço
aquilo tudo que rima tempo e espaço
é água no ar
pra cima
arregaço náutico
o beijo das serpesa crise de deus
o mar fantástico
não sei se suprassumido
sumiço de um barco
não sei se super achado
na baía sem casco
numa ilha
num arco sem triunfo
encalha lá no topo superlotado
barco de pau-a-pique
Titanic é seu apelido
madeira sem fundo
argonautas seus tripulantes
com flautas, berrantes
violas lisas,
turbantes
meretrizes
menestréis
alaúdes e alambiques
lá pra cima tudo é agua
poema que não se acaba
como a foz que não se desnutre
pelos fundos tudo é m'água
no porão das mil palavras
somos corvos ora abutres
chamem Moisés
chamem Mozart
pois quantos cruéis helicópteros
subiram
pra pegar ostras
para apanhar conchas
moças-pérolas
e asa deltas
como é duro navegar nas névoas
aves enjoadas
naves revoadas
vi granizo feroz
cortando
o piso
a atmosfera
nuvens velhas
pessoas com guelras
flutuantes
plantei um planeta
de flores velozes
despetalantes
Ode ao Mar Vertical
calle dos afortunados
Ode ao madrigal que o canta
na madrugada
claro
na madrugada
sonho caído dos olhos
águas que não me lavam
que só molham
me chame de Eneida!
foda-se a décima segunda sílaba!
montem as baleias
pois são aladas
e mesmo líricas
badaladas
e de pronto
e de pronto, ele repetiu,
despenquei do Mar alto
dizendo na cabeça
nunca é demais reler a Ilíada
e ser ilha
ser filha
rever Ulisses
e beijar Calipso
ancorar em outras orlas
quero passar a liça nas moças
e mão em suas hortaliças
ode ao Mar Vertical
pois o mar caiu
no ponto final
de um ônibus
de uma nave
Mar Vertical
além da vértice
vertigem
sem fim
sem grau
além do horizonte
tolices
o pensamento que singra
e descobre o mar o caos
e enfins
fins


(Leandro Acácio e Sérgio L. Nastasi - julho de 2011)

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