ÁGORAS DE MARÇO
terça-feira, 1 de março de 2011
estava sonhando um sonho sonhado
Sempre falo deste samba-enredo quando o assunto é Carnaval (e até quando não é...). A composição é da parceria Martinho da Vila, Aluísio Machado, Beto Sem Braço, Rodolfo e Graúna, para o desfile da Vila Isabel em 1980. Vice-campeã daquele ano, a "Vila não abafou ninguém", como dizem no bairro de Noel, "só mostrou que faz samba também".
O Enredo da Vila, por sugestão de uma professora de português, foi confeccionado a partir dos versos do belo poema de Carlos Drummond de Andrade, o
Sonho de Um Sonho
(que está nas páginas de
Claro Enigma
).
A batucada da Vila: uma maravilhosa consonância entre os tarois e as caixas, num tempo em que os repiques não aceleravam o samba, os tamborins não eram metralhadoras, e as cuícas estavam molhadinhas (ou calientes, como diria Ana Borm...).
Outra coisa de que podemos falar com a boca cheia: a ousada estrutura do samba-enredo. Martinho sempre nos deu um baile neste quesito. Em 1987, com
Raízes
, fez um samba sem rimas, talvez "impraticável" hoje. Parte desse "estilo" se repetiu em
Gbalá
, 1993, com vácuos e apenas um refrão; naquela época mesmo já não se sonhava com isso (ano em que o Salgueiro venceu com o refrão-marcheado de
Explode Coração
).
Dá-me vontade de falar demais, mas a letra poderá completar este quadro, e, colocando nele uma pincelada final, repito que tenho saudades de um tempo que nem vivi.
Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava (bis)
Sonhei
Que eu era um rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços
Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava (bis)
Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma Lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre o réu e o juiz
A clemência, a ternura
Por amor da clausura
A prisão sem tortura
Inocência feliz
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei...
Um comentário:
Eduardo Bento
2 de março de 2011 às 16:54
Ainda bem que conseguiu encontrá-la a tempo, meu caro... GOSTEI DO TEU BLOG!
Abraço,
E.B.
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Ainda bem que conseguiu encontrá-la a tempo, meu caro... GOSTEI DO TEU BLOG!
ResponderExcluirAbraço,
E.B.