terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Camisas




Jefferson Beat e Sérgio L. Nastasi - Fevereiro 2012


As brisas desse tempo
marcam as nossas camisas,
bordadas com linho nobre
mas pelas lembranças corroídas

As vidas que nos seguem
são todas bem-vindas
se embebidas, vinho branco,
se amassadas, doloridas.

E as dores que nos carregam,
desfiam retalhos pelo caminho
que rotos, rasgam, desfazendo-se
Pondo a alma em desalinho

Algumas mãos têm cuidado
e lavam as nossas camisas
de um azul desbotado
como um céu de memórias precisas

Mas algumas manchas, indeléveis
Impregnam para sempre no tecido
E não há solvente que apague
As marcas de um peito dolorido



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Abobados poetas que somos

  
Sérgio L. Nastasi - Fevereiro 2012



"Te quiero"
sem pontos de interrogação invertidos

"Te quiero"
num espanhol descabido

com e sem fantasia
triste e desesperada poesia
que canta abobada
feitio da adolescência
que anda sambada
sentida numa cadência 

nada de amores passados
nada de rancores pesados
nada de versos sofisticados
nada de nada: niilismo passivo
vontade de vontade
idade da razão, 
fora o juízo.

idade de cantar de novo
abobados poetas que somos

E Somos é apenas mais uma palavra.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Belo talhe






                         

Ana Borm e Sérgio L. Nastasi - Fevereiro 2012


Das ondas dos vestidos,
Contavam-me os ventos
Segredos das virtudes
Florindo, assim, tudo feito.

                                                                             Silhuetas de moças
                                                                     Pensamentos incomuns
                                                                                          Só ela seduz
                                                                   Estranhando suas coxas.


Inventa o próprio corpo
dedo a dedo: detalhe
examina um e outro
seio a seio: belo talhe


                                                         Compara ainda com a sombra
                                                                e anda de lado ao espelho,
                                                                       cruza braços e joelhos,
                                                            respira os ventos e as ondas.




sábado, 18 de fevereiro de 2012

Algum dia, numa praça.



Um verso estreito,
ainda melancólico,
armado e sem jeito,
ébrio,
egrégio, 
insólito.



Um verso e teu rosto,
copos de plástico, uma taça
e nós:
falantes ou tácitos,
algum dia,
numa praça.